Talvez no inicio tenha sido pequenos abrigos em cavernas e primitivas construções para maior segurança e proteção do sol e da chuva; ou, quem sabe, as grandes construções, tais como, pirâmides, templos e aquedutos. Não importa qual o começo, fato é que a história da arquitetura nos demonstra que, desde muito tempo, o homem se coloca diante de desafios para atender suas necessidades, criando espaços ou edificações de dimensões e formas variadas, decorrentes de
razões diversas, tais como, funcionais, simbólicas ou econômicas, técnicas, construtivas e tantas mais.
Se considerarmos o modo tradicional de conceber a arquitetura, desde a antiguidade arquitetos e construtores procuraram de uma maneira ou outra, o equilíbrio na forma do edifício (estética), sua destinação de uso (função) e o método construtivo (técnica). Dentre esses três aspectos da edificação, desde sempre para o público em geral – arriscaria dizer também para boa parcela dos profissionais – o que parece mais expressivo na arquitetura é o aspecto formal, plástico. Melhor
dizendo, a forma mais comum de ver e perceber um edifício é através da sua dimensão estética.
Nesse sentido, a crítica especializada tem apontado algumas maneiras com que os arquitetos contemporâneos trabalham suas criações.
Uma delas é a produção de edifícios nostálgicos, inspirados na arquitetura do passado, que, por terem feições conhecidas, tornam-se facilmente percebidos no ambiente construído da cidade.
Trata-se de um cenário, uma vez que essa arquitetura liga-se a passados de outras culturas, diferentes de onde o edifício se localiza, além de isentar o arquiteto de uma interpretação mais qualificada das reais necessidades sociais locais. É comum vermos nas capitais brasileiras, principalmente, empreendimentos imobiliários residenciais, cujas propagandas atrelam seu nome a um estilo “mediterrâneo” ou “neoclássico” mal adaptado ao nosso país tropical.
Há também um outro tipo de arquitetura que procura espelhar o mundo atual, referenciando-se e inspirando-se no ambiente desordenado e caótico das cidades contemporâneas. A representação da desordem visual das cidades, leva a projetos que valorizam a forma excêntrica do edifício, em detrimento da sua função. Assim, começam a surgir, principalmente nas cidades do primeiro mundo, edifícios de formas estranhas, resultantes de malabarismos geométricos e que, não
fossem hoje os recursos oferecidos pela informática e novas tecnologias de materiais e técnicas, mal poderiam ser desenhados e edificados. Obras da iraquiana Zaha Hadid, do britânico Norman Foster e o americano Frank Gehry são exemplos dessa arquitetura que divide opiniões.
Só para citar, o Museu Guggenheim de Bilbao e o Hotel Marques de Riscal, na Espanha – ambos projetados por Gehry – são cobertos por placas de titânio que se entrelaçam, dando aos edifícios expressões estanhas, de formas retorcidas e onduladas. Não único por aqui no Brasil, o arquiteto Rui Ohtake é quem mais tem se mostrado adepto dessa corrente, especialmente no projeto do hotel Unique, em São Paulo, cuja feição é frequentemente comparada a uma fatia de
melancia.
O contraponto a essa arquitetura pretensamente “espetacular” é o que se tem denominado de uma arquitetura silenciosa. Isto é, diante do meio urbano com excessos de formas e estímulos visuais, a opção que surge é a expressão formal simples e intensa. Isso se deve ao fato de que o resultado da forma, deriva diretamente do que é requerido no programa de necessidades, da relação do edifício com o lugar e com o ser humano. Nesse caso, igreja parece igreja, casa
parece casa e assim por diante. É a arquitetura mais próxima da expressão modernista (século XX), tendo como seus expoentes arquitetos como Le Corbusier e FranK Lloyd Wright – só para citar alguns.
Outras atitudes arquitetônicas, bem sabemos, existem, mas aqui ficaremos deixando um convite ao leitor ou leitora. Quando caminhar pelas ruas de sua ou qualquer outra cidade, observe em volta e arrisque identificar uma edificação do presente com elementos arquitetônicos antigos, parecendo um cenário de um tempo pouco conhecido; um edifício de forma insólita e inusitada, que dificilmente acertaríamos qual o seu uso e finalidade, ou aquele edifício autêntico ordenado, de formas simples, sem enfeites e acessórios voltados para seu uso especifico. Quem sabe, sob esse olhar, possa melhor compreender o espaço criado ao seu redor.